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Quando vacas tossem: a morte do Oink o nascimento da dissidência e uma breve história do suicídio das gravadoras - demonbaby (original / tradutores)

 

Há muito tempo eu tenho intenção de postar algum tipo de comentário sobre a indústria da música - pirataria, distribuição, moral, esse tipo de coisa. Eu já tinha pensado nisso muitas vezes, mas nunca pus em prática, porque a questão é muito ampla e complicada - difícil de tratar de forma honesta e sintética. Eu sabia que isto resultaria em um comentário sem direção ou foco, e, de qualquer modo, a minha opinião precisa tem variado ao longo dos anos. Mas na segunda-feira, quando acordei com a notícia de que Oink, o mundialmente famoso site de torrent e a Meca dos amantes de música em todos os lugares, tinha sido encerrado pela polícia internacional e vários grupos anti-pirataria, eu soube que era tempo de tentar e finalmente organizar meus pensamentos sobre esta questão enorme, delicada e importante.

 

Nos últimos oito anos, trabalhei ocasionalmente para as grandes companhias de discos como designer (a palavra "grandes" é uma distinção importante aqui, porque as grandes gravadoras são criaturas completamente diferentes das gravadoras independentes - são as quatro grandes que detêm o poder (Warner, Universal, Sony e EMI), e que conduzem o movimento de toda a indústria contra a pirataria). Foi em 99 que eu senti pela primeira vez o gosto de trabalhar nos bastidores de uma grande gravadora - eu era um jovem estudante universitário, e o interior de um escritório de uma gravadora de Nova York parecia tão vasto e excitante. Dúzias de funcionários abelhas zumbiam nas suas escrivaninhas, ao telefone e em computadores. Pôsteres de música e pilhas de CDs cobriam todas as superfícies. Todos pareciam ter um assistente, e os assistentes tinham assistentes, e você não podia evitar o pensamento "mas que diabo toda essa gente tanto faz?" Eu me incluí nos jantares de $1500 pagos pelas gravadoras aos artistas. Enormes contas de bar eram regularmente pagas por funcionários das gravadoras de discos usando cartões da empresa. Você se acostumava com as pessoas remetendo tantas contas à gravadora quanto podiam.

 

Eu conheci velhinhos de blazer cheirados e falando rápido, caricaturas de chefe de gravadora tão ridículos que pareciam saídos de uma comédia heavy metal. Era tudo estranho e excitante, mas uma coisa que me encanava era a quantidade de dinheiro que se gastava sem nenhuma preocupação. Tanto fazia se eram orçamentos de produção inflados ou "almoços de negócios" que não tinham nada a ver com negócios, uma das minhas primeiras reações a tudo isso era: "ah! é por isso que os discos custam R$45,00..." Uma indústria do excessos. Mas era isso que se esperava do show biz, não é ? Onde se fabricam rockstars. Onde se usam limusines com banheiras, jatinhos e festinhas de cocaína. Para quem crescia nos anos 80, no meio da realeza pop e das bandas de metal cabeludas, era normal acreditar que claro, gravadoras detonam grana à vontade - com tanta grana dando sopa! Mas você conhece o ditado: quanto maior o gigante, maior o tombo....

 

Naquele tempo, “pirataria” era apenas uma palavra no mundo da música. Meus amigos e eu trocávamos MP3 pela rede local da faculdade, mas a troca era desorganizada e os arquivos, de baixa qualidade. Parecia uma novidade – como uma versão digital da cópia de uma fita cassete –, mas não um substituto para os CDs. Os CDs tinham bom som, você podia ouvi-los em qualquer lugar no seu DiscMan e, de toda maneira, as únicas músicas digitais que você alcançaria eram as das coleções de CDs de seus amigos. Nunca ocorreu a nenhum de nós que os arquivos digitais fossem o futuro. Mas, com o passar do tempo, vários garotos em várias faculdades pelo mundo tiveram a idéia de compartilhar arquivos MP3 pelas redes locais e, afinal, alguém prestou atenção a isso e criou o Napster. Foi como se, de repente, as redes de todas as faculdades estivessem interligadas - você poderia encontrar on-line uma diversidade de coisas bacanas. Era mais fácil e mais eficiente do que lojas de discos, era feito por fãs e, bem, era grátis.

 

De repente, você não precisava mais pagar R$30 a R$40 por um CD e torcer para ele ser bom, você poderia primeiro baixar da internet algumas faixas e verificá- las. Mas você ainda compraria o CD se você gostasse - isso é, quem quer que todas as suas músicas estejam só no computador? Eu com certeza não. Porém, cada vez mais, um número maior de pessoas fez isso. Para os universitários, o Napster era um enviado de Deus, pois você pode estar certo de duas coisas sobre universitários: eles adoram música e estão sempre sem grana. Então isso cresceu, cresceu e começou a tornar-se o "mainstream", e foi então que as gravadoras acordaram e se deram conta de que algo importante estava ocorrendo. Naquele momento, eles poderiam ter encarado isso tanto como uma ameaça quanto como uma oportunidade, e determinaram, sem hesitação, que era uma ameaça. Era uma ameaça porque alguém tinha aparecido com um método melhor de distribuição, e gratuito, dos produtos das gravadoras. Para ser justo, dá para imaginar o quão confuso deve ter sido para eles? Há algum precedente na história em que um produto industrial de repente tenha começado a ser replicado e distribuído a partir de si mesmo, sem custos?

 

Por muito tempo - muito depois da maioria dos amantes de música conhecedores de tecnologia - eu resisti à idéia de roubar música. É claro que eu baixava MP3s - eu baixava muitas coisas - mas eu sempre comprava o CD físico se fosse algo de que realmente gostasse. Eu conhecia vários músicos - muitos confusos com o que estava acontecendo na indústria que eles costumavam entender. Pessoas baixando suas músicas em massa, refastelando-se nesta nova fronteira como porcos no chiqueiro - e pior de tudo, sentindo-se no direito de fazer isso. Era como se estivesse tudo bem simplesmente porque a tecnologia existia e permitia aquilo. Mas não estava tudo bem - quer dizer, vamos encarar a realidade, não importa quanto você tenha racionalizado isso, você estava roubando, e porque a tecnologia para ligar um carro sem chaves existe não fez isso ser ok também. Os artistas perderam o controle da distribuição: eles não podiam apresentar álbuns do jeito que queriam, num pacote com um desenho bonito. Eles não podiam revelá-los da forma como queriam também, pois os piratas colocavam os álbuns online muito antes da data de lançamento oficial.

 

O controle foi tomado da mão de todos que costumavam tê-lo. Foi um tempo aterrorizante em território estranho, quando de repente os fãs de música se tornaram inimigos de artistas e companhias que haviam apoiado durante anos. Isso levou a ridículas hipérboles de bandas como o Metallica, que da noite para o dia personificaram os astros de rock "filhinhos de papai", e ao problema da imagem que a indústria fonográfica tem confrontado ao tentar lidar com a pirataria. Mas ainda, naquele tempo, eu podia entender a origem do problema. A maior parte das bandas não era rica como o Metallica e precisavam de todas as vendas de discos para garantirem sua renda e o apoio da gravadora. Além disso, era sua arte, que eles tinham criado - por que não deveriam ter controle sobre como a distribuição era feita - só por que uns adolescentes da Internet, atrevidos e cheios de acne, tinham achado um jeito de burlar o sistema? E esses garotos privilegiados e mimados não conseguem entender que álbuns têm um custo para serem criados, produzidos e distribuídos? Como é possível haver novas músicas se ninguém paga por elas?

 

Além do mais, eu não conseguia entender a idéia de uma biblioteca de música invisível vivendo dentro do meu computador. Onde está o trabalho artístico? Onde está minha coleção? Eu quero um livreto, a embalagem...eu quero ver uma porção de prateleiras com discos que colecionei durante anos para poder contemplar e impressionar os colegas...eu quero folhear as páginas e segurar o CD na minha mão... Sendo um menino que se interessou pela música bem depois do vinil, os CDs eram tudo o que eu tinha e ainda eram importantes para mim.

 

Tudo mudou.

 

Em um curto espaço de tempo, o avanço agressivo da tecnologia juntamente com a resposta arrogante da indústria fonográfica rapidamente exauriu todas minhas nobres intenções de me ater ao velho sistema e agora me empurrou para a dissidência total. Me encontro totalmente imerso na música digital, quase nunca compro CDs, e estou totalmente contra os métodos das maiores gravadoras e da RIAA. Também acho que faria um bem enorme à indústria fonográfica de prestar atenção à causa - porque eu sou só um de milhões, mas haverá milhões de outros nos próximos anos. E tudo isso poderia ter acontecido de uma forma muito, muito diferente.

 

À medida que os anos se passaram, e a tecnologia fez dos arquivos digitais o mais conveniente, eficiente e atraente método de ouvir música para muitas pessoas, as regras e percepções culturais em relação à música mudaram drasticamente. Vivemos na geração do iPod - durante a qual uma coleção enorme de CDs se mostra arcaica - onde a singularidade de sua coleção de música é limitada apenas por quanto seu gosto é eclético. Quando é de se esperar que se você gosta de um álbum, você o envia ao seu amigo para que ele ouça também. Ele gostando ou não, iPods tornaram-se sinônimo de música - e se eu encher meu novo e reluzente iPod de 160GB legalmente, comprando cada faixa on-line pelos R$ 1,99 que a indústria determinou, me custará cerca de R$ 64.452. Como isso pode fazer sentido? A feia verdade da indústria fonográfica é que ela esconde como eles estão lutando para encontrar formas de levar as pessoas a pagar por música, em uma cultura em que já é abraçada a idéia de que a música é algo que você mantém em grandes volumes, e compartilha livremente com os amigos.

 

Já é a palavra-chave, porque não tinha que ser assim, e isso tornou-se a principal fonte da minha total falta de pena pela indústria moribunda: eles tiveram a chance de ir em frente, de evoluir com a tecnologia e endereçar as necessidades de mudança dos consumidores – e eles não o fizeram. Ao invés disso, eles entraram em pânico – mostraram suas garras como dinossauros famintos por poder, e começaram a demonizar seus próprios consumidores, pessoas cujo amor pela música havia lhes proporcionado lucros massivos por décadas. Eles usaram seus contratos de gravação injustos – os que davam a eles a propriedade de todas as músicas – e foram atrás de crianças, avós, mães solteiras, até mesmo bisavós falecidas – ao lado de muitas outras pessoas comuns que não fizeram nada além de baixar algumas músicas e deixá-las numa pasta compartilhada – algo que se tornou a norma cultural para a geração do iPod. Juntando-se no que tem sido referenciado como um cartel ilegal e usando a RIAA como seu cão de guarda, as gravadoras gastaram bilhões de dólares tentando assustar pessoas para que não baixassem músicas. E simplesmente não está funcionando.

 

A comunidade pirata continua sendo mais esperta e inovadora que as gravadoras com seus métodos ultrapassados, e as vendas de CDs continuam a cair enquanto a troca de música continua crescendo astronomicamente. Por que? Porque música disponível gratuitamente em grandes quantidades é a nova norma cultural, e a indústria não deu a seus consumidores uma alternativa justa. Eles não pararam quando as novas tecnologias começaram a emergir para pensar, “como podemos capitalizar em cima disso para garantir que seremos capazes de ficar por cima enquanto damos aos consumidores o que eles passaram a esperar?”. Eles não se juntaram e criaram uma taxa mensal para baixar todas as músicas que você quisesse. Eles não responderam baixando drasticamente os preços dos CDs (que têm sido excessivamente caros desde o primeiro dia, e ainda aumentaram de preço nos anos 90), ou oferecendo vendas legais de MP3 de baixo custo e sem DRM. A entrada deles no mercado digital foi tarde demais – um precedente de músicas grátis, de alta qualidade e sem DRM já estava decretado.

 

Aparentemente existe uma série de motivos pelos quais as gravadoras estragaram tudo. Um deles é que elas realmente não são muito inteligentes! Elas sabem como fazer uma coisa, que é vender álbuns no ambiente tradicional do varejo. Mas, por uma experiência pessoal, posso garantir que as grandes gravadoras não têm noção do que fazem no mundo digital - suas idéias são ultrapassadas, os seus métodos não fazem sentido, e cada decisão é dificultada por quilômetros e quilômetros de burocracia jurídica, direitos autorais e interesses corporativos. Tentar inovar em uma grande gravadora é como tentar ensinar sua avó a como jogar Halo 3: frustrante e, em última análise, inútil. O melhor exemplo disto é a luta que tem sido convencer as empresas a vender MP3s sem DRM. É você tentando explicar uma nova tecnologia para um idoso que fez fortuna em outras eras.

 

Você está tentando dizer a ele que quando alguém compra um CD, este não tem DRM - as pessoas podem codificá-lo no seu computador como MP3s sem DRM em segundos, e mandá-las para todos os seus amigos. Então por que insultar o consumidor ao fazê-lo pagar o mesmo preço por MP3 protegidas contra cópia? Isso não faz sentido! Isso só frustra as pessoas e as leva à pirataria! Eles não entendem: "É uma MP3, você tem que protegê-la, ou vão copiá-la". Mas eles não podem fazer o mesmo com os CDs que você já vende!! Burocracia e montes de merda corporativa. Se essas pessoas não fossem aquelas que possuem a música, tudo isso já estaria acabado, e estaríamos aproveitando o verdadeiro futuro da música. Porque como em qualquer indústria nova, não são as pessoas da geração anterior que vão dar um passo adiante e ser os pioneiros. É um novo grupo.

 

Jornais são um bom exemplo: as pessoas costumavam ler jornais para obter notícias. Esse era o método de distribuição, e os jornais controlavam isso. Você paga pelo seu jornal, você consegue suas notícias, era assim que funcionava. Até que a internet apareceu, e uma nova geração de pessoas inovadoras criou websites, e de repente qualquer um podia distribuir informação, e podia fazê-lo de forma rápida, melhor, mais eficiente, e de graça. Óbvio que isso atingiu a indústria dos jornais, mas não havia nada que eles pudessem fazer, porque eles não detinham a informação em si - detinham apenas o método de distribuição.

 

A única escolha deles era inovar e encontrar meios de competir em um novo mercado. E quer saber? Agora eu posso ter ao vivo, minuto a minuto, notícias de graça, a partir de milhares de diferentes fontes pela Internet - e o New York Times ainda existe. O mercado livre do capitalismo no seu ápice. Não é um exemplo perfeito, mas é parte de como a Internet está alterando todas as formas da mídia tradicional. Aconteceu com os jornais, está acontecendo com a música, e a TV e os celulares são os próximos da lista. Em todos os casos a tecnologia exige que a mudança aconteça, é só uma questão de quem vai encontrar meios de tirar vantagem disso, e quem não vai.

 

Diferente dos jornais, as gravadoras dominam a distribuição e o produto sendo distribuído, então você não pode simplesmente começar seu próprio website onde você dá de graça música que eles possuem - e é isso o que está por trás de tudo: distribuição. Muitos defensores da pirataria argumentam que a música pode ser grátis porque as pessoas sempre vão amar música, e eles pagarão por ingressos para shows e merchandise, e o mercado mudará e os artistas sobreviverão. Bem, sim, isso pode ser uma opção para alguns artistas, mas isso não ajuda em nada as gravadoras porque elas não ganham dinheiro com merchandise ou ingressos de shows. Distribuição e propriedade é o que eles controlam, e estas são as duas coisas que a pirataria ameaça. As poucas grandes gravadoras que restaram são parte de grandes conglomerados de mídia - controlados por grandes empresas para quem artistas e álbuns são apenas números num pedaço de papel.

 

É por isso que as gravadoras empurraram goela abaixo esse lixo comercial descartável ao invés de nutrir a carreira dos artistas: porque eles têm CEOs e acionistas a quem respondem, e estas pessoas não dão a mínima se uma banda realmente boa tem potencial para ser realmente bem-sucedida se tiver o suporte necessário ao longo de uma década. Eles vêem que a última porcaria musical da Gwen Stefani vendeu milhões, porque pais de garotas de 12 anos ainda compram música para seus filhos, e a empresa controladora demanda mais lixo pop que fará dinheiro fácil e será esquecido em mais ou menos um mês. A única coisa que interessa para estas corporações é o lucro - ponto. Música não é pensada como uma forma de arte, e foi-se o tempo nesta indústria em que as gravadoras eram criadas por amantes de música - é um produto, pura e simplesmente. E muitas dessas corporações também são donas das fábricas de CDs, então eles fazem dinheiro de todos os lados - e perdem dinheiro mesmo com MP3s legais.

 

Em cima de tudo isso está a ultrapassada e injusta estrutura de leis de propriedade intelectual, todas urgindo por uma reforma maciça devido ao início da era digital. Estas leis permitem que as gravadoras mantenham seu sufocamento e domínio sobre os direitos de suas músicas e permitem à RIAA acionar judicialmente, de forma vil, qualquer usuário de compartilhamento de arquivos. Uma vez que as gravadoras são de propriedade de grandes corporações, que detêm altas somas de dinheiro, poder e influência política, a RIAA é capaz de pressionar os políticos e os órgãos governamentais para manipular leis em seu benefício. O resultado é um volume financeiro absurdo em multas, e leis que, em alguns casos, equiparam o caso de compartilhamento de arquivos a roubo à mão armada.

 

Esse é um outro caso de interesses corporativos privados utilizando influência política para direcionar as leis num sentido oposto ao dos valores das pessoas, em transformação. Ou, como essa inteligente avaliação que um executivo das gravadoras descreve: "um claro caso de um conglomerado multinacional utilizando sua musculatura política para a desvantagem de todos, exceto ele". Mas manobras políticas nebulosas e táticas de amedrontamento foi tudo o que restou à RIAA e outros grupos anti-pirataria, porque as pessoas que baixam música ilegalmente são hoje centenas de milhares, e eles não podem processar a todos. Nesse momento eles estão só tentando segurar o que restou do dique antes que ele se rompa de vez. Sua última vítima é o Oink, um site popular de troca de arquivos de música.

 

Se você não está familiarizado com o Oink, aqui vai um resumo breve: Oink era um site gratuito de acesso restrito a membros - para entrar, você precisava ser convidado por um membro. Os membros tinham acesso um banco de dados de música organizados pela comunidade sem precedentes. Qualquer álbum que você pudesse imaginar estava a um clique de distância. Os padrões rígidos de qualidade do Oink garantiam que tudo no site tivesse um som cristalino - MP3 a 192kbps era a qualidade mínima, e eles ofereciam MP3 com qualidade muito mais alta, assim como downloads de arquivos FLAC sem perda de qualidade. Eles encorajavam logs para verificar que a música havia sido ripada do CD sem erros. Os transcodes - arquivos codificados a partir de outros arquivos codificados, resultando em qualidade baixa - eram estritamente proibidos. Você sempre tinha a garantia de uma música com qualidade mais alta do que no iTunes ou em qualquer outra loja legal de MP3.

 

A obrigatoriedade de todos os usuários do Oink em manter uma razão download/compartilhamento mínima garantia que qualquer álbum do seu vasto banco de dados sempre estivesse disponível, resultando em downloads mais velozes do que qualquer outro lugar na internet. Um álbum de 100mb seria baixado em poucos segundos mesmo numa conexão banda larga mais modesta. O Oink era conhecido por conseguir, antes de qualquer outro lugar na internet, álbuns antes mesmo de serem lançados, muitas vezes meses antes de chegarem às lojas - mas também tinham um extenso catálogo de músicas antigas, alimentado por amantes de música que se orgulhavam em disponibilizar jóias raras de suas coleções que estivessem sendo procuradas por outros usuários. Caso houvesse um disco que você não encontrasse no Oink, você só precisava publicar um pedido e esperar que alguém atendesse. Mesmo se o pedido fosse extremamente raro, a imensa rede do Oink, com centenas de milhares de amantes de música, ávidos por contribuir com o site, geralmente garantia que você não esperasse por muito tempo.

 

Neste sentido, o Oink era não só um absoluto paraíso para fãs de música, mas foi sem dúvida o mais completo e mais eficiente modelo de distribuição musical que o mundo já conheceu. Digo isto com segurança, sem exagero. Foi a maior do mundo em armazenamento de música, cuja seleção e distribuição foi bastante superior e totalmente abastecido, fornecido, organizado e amplificado pelos seus próprios consumidores. A indústria musical encontrou uma maneira de aproveitar o poder de devoção e de inovação dos seus próprios adeptos, o Oink mostrou o caminho. Se leis de propriedade intelectual não tivessem feito do Oink ilegal, o criador do site seria o novo Steve Jobs. Ele teria revolucionado a distribuição de música. Em vez disso, tornou-se um criminoso, simplesmente por encontrar a melhor forma de suprir a crescente demanda dos consumidores. Eu teria um grande prazer em pagar uma taxa mensal de serviços tão bons quanto o Oink - mas não existiu, porque a indústria da música nunca deixará de lado sua ganância corporativa.

 

Aqui um parêntese interessante: a RIAA adora reclamar dos piratas da música vazando álbuns na internet antes de seu lançamento nas lojas - pintando-os como piratas imorais empenhados em atacar seu inimigo, a indústria da música. Mas você sabe de onde essa música vaza? Da -------- fonte, é claro - as gravadoras! A esta altura, a maioria das bandas sabe que uma vez que seu disco terminado é enviado à gravadora, o risco de ele aparecer online começa, porque as gravadoras estão cheias de trabalhadores de baixo escalão que por acaso são fãs de música que mal podem esperar para compartilhar o álbum mais recente da banda com os amigos. Se o disco conseguir não vazar diretamente da gravadora, certamente vazará assim que for encaminhado para fabricação. Alguém na fábrica está sempre pronto a desviar uma cópia, e num instante ele aparece on-line. Por que? Porque as pessoas amam música, e eles não querem esperar para ouvir o disco de sua banda favorita! Não é questão de lucro, e não é questão de malícia.

 

Então, indústria das gravadoras, talvez se vocês pudessem proteger seus próprios bens, a merda não vazaria - não culpem os fãs que se dirigiram ao material online que vazou, culpem as pessoas que vazam esse material das fábricas de vocês antes disso! Mas presumindo que esse é um abacaxi difícil de descascar, isso exige a pergunta, "por que as gravadoras não se adaptam para a natureza em mutação da distribuição, vendendo novos álbuns on-line assim que eles são finalizados, antes que eles tenham a chance de vazar, e lançam os CDs físicos alguns meses depois?" Bem, em primeiro lugar, as gravadoras ainda são obcecadas pelos números de vendas da Billboard - elas são obcecadas com a determinação do valor de mercado de seus produtos através de como eles vendem na semana de lançamento. Vendê-los online antes da grande estréia, antes que eles tenham gasto meses para propriamente vender o produto e garantir sucesso, bagunçaria esses números (não importa que esses números não signifiquem mais nada).

 

Além disso, vender um álbum online antes que ele chegue às prateleiras deixa as lojas de discos (que também estão sofrendo com tudo isso) irritadas, e as lojas de discos têm bem mais poder do que deveriam. Por exemplo, se uma gravadora lança um álbum on-line mas o Wal-Mart não vai ter o CD por dois meses (porque ele precisa ser fabricado), o Wal-Mart fica louco. Quem se importa se o Wal-Mart fica louco, você pergunta? Bem, as gravadoras se importam, porque o Wal-Mart é, tão misteriosa quando tragicamente, o maior vendedor de músicas no mundo. Isso significa que eles têm poder, e eles podem dizer "se vocês venderem o álbum da Britney Spears on-line antes que possamos vender em nossas lojas, nós perdemos dinheiro. Então se vocês fizerem isso, nós não vamos querer o álbum dela de maneira nenhuma, e então vocês vão perder MUITO dinheiro." Esse tipo de besteira e mesquinharia nos negócios acontece o tempo todo na indústria fonográfica, e o resultado disso é uma experiência pior para os consumidores e amantes da música.

 

É por isso que o Oink era tão legal - tire todas as regras e impedimentos legais, toda propriedade e margens de lucro e, naturalmente, o resultado é algo para, por, e a serviço do fã de música. E isso na realidade ajuda os músicos - o compartilhamento de arquivos é a melhor ferramenta de marketing que já surgiu para a indústria da música. Um dos melhores atributos do Oink era como ele permitia que os usuários conectassem artistas semelhantes e vissem do que mais os fãs de determinada banda também gostavam. Semelhante ao sistema de recomendação da Amazon, era possível passar horas descobrindo novas bandas no Oink, e era o que vários de seus usuários faziam. Através de sites como o Oink, a quantidade e variedade de música que eu ouvi foi às alturas, me apresentando a centenas de artistas que eu nunca teria conhecido de outra maneira. Agora sou fã da música deles, e eu posso não ter comprado seus CDs, mas eu nunca teria comprado o CD deles de qualquer maneira, porque eu nunca tinha ouvido falar deles!

 

E agora que ouvi falar deles, eu vou aos seus shows, e falo deles para meus amigos, e dou aos meus amigos a música para que ouçam por si mesmos, então eles podem ir aos shows, e contar aos seus amigos, e por aí vai. O Oink era uma rede de amantes da música compartilhando e descobrindo música. E sim, era tecnicamente ilegal, e destinado a ser fechado, eu suponho. Mas não é tanto por terem fechado o Oink que meu sangue ferve, e sim pela ------- propaganda ideológica idiota que eles colocaram lá. Se a indústria tentasse ter algum tipo de misericórdia - se eles dissessem "nós entendemos que esses são apenas fãs de música tentando ouvir o máximo de música que eles conseguirem, mas temos que proteger nossos bens, e estamos trabalhando numa solução para essa indústria para acomodar as mudanças nas necessidades dos fãs de música"... Bem, é muito tarde para isso, mas seria encorajador.

 

Em vez disso, eles fazem soar como se eles tivessem desmantelado um cartel de drogas colombiano ou algo do tipo. Eles descrevem o site como um grupo altamente organizado de pirataria. Como se os usuários do Oink estivessem distribuindo pornografia infantil ou outra merda. O comunicado à imprensa diz: "Esse não era um caso de amigos trocando música por prazer". Hm - o quê?? Isso é EXATAMENTE o que era! Ninguém ganhou nenhum dinheiro naquele site - não havia nenhum anúncio, nenhuma taxa de inscrição. A única moeda era a reciprocidade - a quantidade de material que você compartilhava com outros usuários - uma maneira brilhante de transformar o "gratuito" em uma espécie de minieconomia em expansão. Os grupos antipirataria tentaram disseminar a noção de que você tinha que pagar uma taxa para entrar no Oink, o que NÃO é verdade - as doações eram voluntárias, e serviam para manter a hospedagem e manutenção do site. Se as doações se converteram em lucro para o cara que criou o site, bom, ele bem que mereceu - ele criou algo realmente digno de nota.

 

Então, a próxima pergunta é: e agora?

 

Para as grandes gravadoras, este é o fim. A-ca-bou. Vocês estão queimando na fogueira, e estamos todos indo dançar ao redor do fogo. E é por falha de vocês. Certamente, lá dentro, no fundo, vocês sabiam que o dia estava chegando, certo? Sua importante indústria se baseia em um modelo de negócios injusto de possuir arte que vocês não criaram em troca dos serviços que vocês prestam. É uma tudo manipulado para que vocês sempre ganhem - mesmo que o artista tenha se dado bem, vocês terão se dado dez vezes melhor. Isto aconteceu porque vocês controlavam a distribuição, mas agora isso voltou para as mãos do povo, e vocês deixaram a bola cair quando poderiam ter evoluído.

 

Isto não é uma forma de dizer para os artistas que não há mais uma forma de fazer dinheiro, ou mesmo que este é o fim das gravadoras. É apenas o fim das gravadoras como nós conhecemos. Muitas pessoas apontam o Radiohead como modelo do futuro, mas o Radiohead só molhou a pontinha do dedo no futuro para sentir a água. O que antes parecia mais a revolução de um arco-íris colorido foi agora foi revelado publicamente como um objeto comercializável: o Radiohead estava "experimentando", liberar uma versão de um álbum de baixa qualidade em MP3 apenas para punir os fãs que depois pagaram pela versão em CD com qualidade total e com faixas extras. Segundo o empresário do Radiohead: "Se nós não acreditássemos que quando as pessoas ouvirem a música elas vão querer comprar o CD não teríamos feito o que fizemos." Ai. O Radiohead caminhou na direção certa, mas se eles realmente querem iniciar uma revolução, eles precisam colocar o álbum digital "pague-quanto-quiser" no mesmo nível de conteúdo e qualidade que o álbum físico "pague-quanto-queremos”.

 

Já não sei mais qual vai ser o modelo do futuro da música - todas as peças do quebra cabeças estão aí, mas precisam ser rearranjadas e as regras precisam mudar. Talvez a gravadora do futuro exista só para financiar os custos de gravação e a divulgação, mas sem serem donas da música. Talvez a música gravada seja grátis e os músicos ganhem dinheiro fazendo shows e vendendo camisetas e se eles precisarem de gravadora ela se remunera de uma porcentagem sobre os lucros dos shows e camisetas. Talvez gravadoras 100% digitais forneçam às bandas todas as ferramentas necessárias para vender a música diretamente para os fãs, por uma pequena porcentagem pelos serviços. De qualquer forma, os artistas vão ser donos de sua própria música.

 

Eu costumava rejeitar o mantra batido "a música deve ser livre!" dos ladrões de música on-line. Eu sabia demais sobre os detalhes e economia daquilo, da situação de rock-é-um-lugar-difícil em que muitos artistas estavam com suas gravadoras. Eu pensei que havia novos caminhos o bastante para vender música que seriam justos para todas as partes envolvidas. Mas eu não acredito mais nisso, porque as gravadoras massacrantes, retrógradas, gananciosas e obsessivas por posse nunca deixarão isto acontecer, e isso agora está mais claro para mim do que nunca. Então talvez a música tenha que ser livre. Talvez tirar o dinheiro da música seja o único jeito de trazer o dinheiro de volta pra ela. Talvez seja hora de abandonar a noção da estrela do rock - de música como uma rota para a fama e a fortuna.

 

De qualquer maneira, as melhores músicas sempre foram feitas por pessoas que não estavam nessa por dinheiro. Talvez músicos espertos e talentosos encontrarão um bom jeito de viver com ou sem venda de CDs. Talvez os executivos da indústria fonográfica que fizeram sua fortuna com contratos injustos e distribuições monopolistas devessem sair de cena, confiantes de terem ordenhado uma oportunidade limitada na medida do possível, dando-os a chance de fazer fortuna em outros lugares. Possivelmente na mão dos consumidores, o mercado da música expandirá em novas maneiras lucrativas, mas ninguém pode sonhar com isso por enquanto. Não sabemos quando a música será gratuita e se isso eventualmente vai acontecer. Uma coisa é certa, as inovações tecnológicas destruíram a velha indústria e construíram uma nova. Não podemos lutar contra ela para sempre.

 

Até que todos os muros finalmente tenham caído, será inevitável olhar para trás onde tivemos um período caótico na música - fãs estão sendo presos por compartilhar as músicas que gostam e muitos artistas estão pouco preocupados, estão despreparados para experimentar novos modelos de negócios porque estão presos a contratos fonográficos de gravadoras conservadoras.

 

Sendo assim, como nós, você e eu, poderemos ajudar nesse novo mundo? A beleza do Oink era como os fãs com disposição e eficiência assumiam o papel de distribuição que tradicionalmente custavam às gravadoras milhões de dólares. Os amantes da música mostraram que estão muito mais dispostos a dar tempo e esforço à música do que dinheiro. É hora de mostrar aos artistas que não há limites para o que a força dos fãs-clubes on-line pode fazer, e tudo o que eles pedem em troca é mais música. É hora de mostrar às gravadoras que eles perderam uma grande oportunidade ao não abraçar estas oportunidades quando tiveram a chance.

 

1. Parem de comprar música das grandes gravadoras. Ponto. A única forma de forçar uma mudança é atingir as gravadoras onde machuca – no bolso. As grandes gravadores são agora como Terry Schiavo - estão em situação de risco, babando em coma, enquanto os caras de chapéu branco de terno tentam e mudam as leis para mantê-los vivos. Mas qualquer pessoa racional pode ver que é tarde demais, que está na hora de tirar o tubo de alimentação. Neste caso, este tubo é o seu dinheiro. Descobrir quais gravadoras são membros/apoiadoras da RIAA e grupos similares de reforço dos direitos autorais, e não apoiá-los de qualquer forma. O RIAA Radar é uma ótima ferramenta para ajudá-los com isto. Não compre CDs, não compre músicas online do iTunes, não compre da Amazon, etc. Roube a música que você quiser que se encontra nas grandes gravadoras.

 

É fácil despistar as táticas assustadores da RIAA, isso pode ser feito com segurança - especialmente se mais e mais pessoas estão fazendo isso. Envie cartas para aquelas gravadoras e para a RIAA, explicando de uma forma bem amena e profissional que você não irá mais sustentar seus negócios, por causa de suas táticas assustadoras contra os fãs de música, e sua inabilidade de apresentar uma solução inovadora de distribuição digital. Diga a eles que você acredita que seu modelo de negócios está ultrapassado e aqueles dias em que as empresas eram donas das músicas dos artistas acabaram. Demonstre com clareza que você continuará a apoiar os artistas diretamente de outras formas, e deixe BEM claro que a sua decisão veio através dos resultados diretos das ações das gravadoras e da negligência em relação à música digital.

 

2. Apóie artistas diretamente. Se a banda que você gosta está presa a uma grande gravadora, existem toneladas de caminhos para apoiá-los sem necessariamente ter que comprar seu CD. Conte pra todo mundo sobre eles - comece um site de fãs se você está realmente apaixonado. Vá a seus shows quando eles estiverem em sua cidade, compre camisetas e outras peças de marketing. Aqui vai um segredinho: qualquer coisa que uma banda venda que não tenha música está fora do alcance da gravadora, e financeiramente apóia mais o artista do que a compra de um CD, como, por exemplo camisetas, pôsteres, chapéus, chaveiros, adesivos, etc. Mande uma carta para a banda contando que você não vai mais adquirir a música deles, mas vai continuar a ouvir, espalhando a idéia e apoiando-os de outras maneiras. Conte a eles que você tomou essa decisão porque está tentando forçar uma mudança na indústria, e que não vai mais apoiar selos e gravadoras com filiações à RIAA que detenham a música de seus artistas.

 

Se você gosta de bandas que estão liberando suas música, selos indie não-RIAA , compre os álbuns dela! Você apoiará a banda que gosta, e também apoiará o trabalho duro, pessoas apaixonadas por detalhes, selos de música que pensam à frente. Se você gosta de bandas que são completamente independentes e que estão liberando suas músicas por conta própria, apóie-as o máximo possível. Pague pela música, compre seus produtos, conte a todos os seus amigos sobre a banda e ajude a promovê-los online - prove que uma rede de fãs apaixonados é o melhor tipo de promoção que uma banda pode querer.

 

Espalhe esta mensagem. Espalhe esta mensagem para todas as pessoas que você puder - conte no seu blog, no seu Orkut, e mais importante, conte aos seus colegas do trabalho, aos membros de sua família, às pessoas que podem não estar tão sintonizadas na Internet quanto você. Ensine a essas pessoas como usar torrents, mostre onde conseguir música de graça. Mostre como apoiar artistas e, ao mesmo tempo, ignorar gravadoras, e mostre também quem merece e quem não merece apoio.

 

4. Envolva-se politicamente. O atalho para o término de toda essa falta de senso é mudar as leis de propriedade intelectual. A RIAA faz looby com os políticos para manipular as leis de direito autoral para o seu próprio interesse então os eleitores precisam fazer lobby com os políticos para defender os interesses do povo. Contate seu deputado e senador. Conte a eles, de maneira educada e clara, que você acredita que as leis de propriedade intelectual não mais refletem os interesses do povo e que você não votará naqueles que apóiam os interesses da RIAA. Encoraje-os a esboçar uma legislação que ajude a mudar as antigas leis e multas desproporcionais dos associados da RIAA. Informações de contato de deputados federais podem ser achados aqui e informações de contato dos senadores podem ser achadas aqui. Você pode enviar-lhes emails, mas telefonar ou escrever cartas é sempre mais efetivo.

 

Esta noite, com a extinção do Oink, me pergunto onde posso ir para descobrir novas músicas. Todas as outras opções - particularmente as legais (juridicamente falando) - parecem deprimentes na comparação. Me pergunto quanto tempo passará até todos poderem legalmente experimentar o nirvana musical ao qual os usuários do Oink se acostumaram. Não estou tão preocupado - algo ainda melhor surgirá das cinzas do Oink, e a RIAA responderá com mais processos, e o ciclo se repetirá de novo e de novo até que a indústria sangre até a morte. E então será possível que tudo mude, e estará na mãos dos músicos, fãs e uma nova geração de empreendedores decidir como o novo modelo de negócio de gravações irá funcionar. Independente de você concordar com isso ou não, é um fato. É inevitável - pois a determinação dos fãs em compartilhar músicas é muito, muito maior que a determinação das corporações em parar esse compartilhamento.